"PORQUE NARCISO ACHA FEIO O QUE NÃO É ESPELHO" (Caetano Veloso).

terça-feira, 7 de julho de 2009

CRÔNICA DO DIA.


O MISTERIOSO SUICÍDIO DO VASO DE ANTÚRIOS

Saltou de sobre a mesa. Assim foi o suicídio do vaso de antúrios. Estivesse desgostoso, vá lá, mas de quê serviu? Sangra seus cacos por todos os lados e ainda no tapete felpudo. Desilusão. Era disso o que sofria? (Sem carta ele se foi, e eu sequer atino sobre seus motivos)...

Olha que fora bem casado, bem casado. Por ele passaram belas flores tropicais que muito lembravam aves ou corais ou mesmo pedras preciosas raríssimas. Girassóis. Mais recentemente é que andava desenxabido, dando colo a uma dúzia de antúrios artificiais, e sem água.

É motivo? Porque eu nunca o apartei definitivamente da beleza. O que eu podia - vez ou outra – era o que lhe dava. Enchia-o com flores de final de semana, companhia para alguns dias; depois o tédio e a artificialidade novamente. (E quem aguentaria beleza ininterrupta, sem fim?)

Bem assim é também a vida. Esta é menos intempestiva sem, contudo, ser inteiramente pacífica. Não há ninguém que eu conheça que já não tenha sonhado com a grandeza de carregar continuadamente, vivas, perfumadas braçadas de rosas carmim, orquídeas, cravos que seja.

Mas as coisas nem sempre são. Nem sempre se tornam; e a gente vai se enfeitando como pode; gerânios de plástico, musgo, cactos de isopor...

Teria se atirado por não suportar artificialidades? (Talvez tenha sido o vento, só o vento da varanda que eu, por descuido, abri). Jamais saberei...

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