"PORQUE NARCISO ACHA FEIO O QUE NÃO É ESPELHO" (Caetano Veloso).

quarta-feira, 29 de julho de 2009

CRÔNICA DO DIA.

A CIÊNCIA POR TRÁS DO DOCE DE ABÓBORA

Algumas coisas passam sem passar. Ou melhor, os anos passam e certos sabores permanecem atrelados ao momento; não perseguem o tempo nem grudam nele... Acontece isso com doce de abóbora.

Talvez seja necessária uma explicação detida, além de maior clareza de raciocínio. (Tentarei). Vamos aos fatos: Minha mãe fazia o melhor doce de abóbora do mundo. E eu o comia pela manhã (parece estranho, mas na época não) com uma talhada de pão feito em casa. Tinha um sabor de... Saudade? (Na verdade passou a ter esse gosto depois de algum tempo).

Olhe que a ciência da receita não tomaria meia folha de caderno. Abóbora (naturalmente), um pouco de água, açúcar (naturalmente também, vez que se tratava de um doce), dois ou três cravos da índia, panela, fogo e braço. Vê-se de cara que há ciência nisso... Mas, qual? Talvez a ciência da escassez, da inexistência de chocolates, balas de goma, leite condensado, flans metidos a besta, sobremesas prontas. A ciência do suor de uma mãe cansada, mexendo panelas sem parar... De resto é que persigo esse doce de abóbora ao longo da vida. O tempo passou, mas ele não passa.

Provei de ricas iguarias, mas jamais alcancei a mesma sensação. Continuo desejando, buscando um gosto que já não existe. (Talvez porque eu mesmo também não exista e, como desculpa, persiga incessantemente a sombra de um menino que adorava doce de abóbora com pão caseiro).

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