"PORQUE NARCISO ACHA FEIO O QUE NÃO É ESPELHO" (Caetano Veloso).

segunda-feira, 6 de julho de 2009

CRÔNICAS ESPARSAS.


O CASO JOÃO.

João. Sujeito meio sujo e sem parentes. Transitava pela feira de olhos compridos no alheio. Não que o fosse subtrair, mas desejava intimamente alguma migalha.

Comia e dormia por bons favores. Fosse mal, não se mostrava. Bom, tampouco, porque sequer existia. Ficava por lá, ajudando a quem lhe pedisse ou oferecesse um prato, uma noite longe de restos e de ratos.

Certa feita apareceu com história nova. Aposentadoria acumulada de anos, gorda nota. Precisava de ajuda para resgatá-la e pagaria comissão. O por cento renderia uns cinco mil à alma que lhe socorresse; não tardou para encontrar.

Três meses de labuta em que João viajou para cima e para baixo, visitou família interior para encontrar documentos perdidos, certidões. Dinheiro para um advogado, cartórios, almoços, adiantamentos concedidos pela boa alma, não sem o devido acréscimo em suas expectativas.

João inexistia, mas não era bobo. Ao cabo do tempo em que conseguiu manter iludida a alma caridosa, descobriu-se que a tal aposentadoria não existia (assim como João). E os investimentos feitos, a fundo perdido, estavam de fato perdidos, porque o por cento de nada...

Ainda perambula por lá, passeando entre as barracas de frutas. Não é má pessoa, mas, verdade seja dita, o bicho tem lábia, ah, que isso tem!

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