"PORQUE NARCISO ACHA FEIO O QUE NÃO É ESPELHO" (Caetano Veloso).

terça-feira, 21 de julho de 2009

CRÔNICA DO DIA.


A MINHA VERSÃO OFICIAL

Nas proximidades do hotel Recife o mar me desvenda as razões do nome da cidade. É lá que, nos dias de maré-baixa, deixa aparecer enormes costelas de pedra. Penso que, se escavado, o local revelaria um colosso de rochas deitado desde imemoriais eras. Gosto dessa fantasia porque ela é minha. Ninguém me revelou tal segredo. Eu o inventei e por isso tem uma cor especial. O nome da cidade... Para explicá-lo deve haver ao menos uma versão oficial. Que me interessam as versões oficiais?

Algum dia, quando o mar estiver acanhado – perseguindo uma lua oculta para além do horizonte - o gigante de rocha despertará. Será um dia de susto e comoção. Os vendedores de caldinho serão os primeiros a correrem. Os seguirão os banhistas da primeira hora e por último pararão os carros, deixando a avenida imersa em caos. Todos vislumbrarão, admirados, o titã sacudindo de sobre sua pele os musgos, as algas, os restos de conchas e os pequenos siris que se acoitam nas reentrâncias.

Nesse dia estarei por perto. Vou me deter um tempo em sua face pétrea, e quando me encarar não terei dúvida em seduzi-lo: “Uma água de coco?” (Há de aceitar. Não conheço quem resista a um convite desses, especialmente depois de ter dormido por tanto tempo sob a água salgada desse mar que não tem fim). Trocaremos segredos e causos... Incrédulos, os passantes seguirão suas vidas... (Como se nada tivesse acontecido).

Um comentário:

Cristina Thomé disse...

Amei isso! Beijo bem grande.