"PORQUE NARCISO ACHA FEIO O QUE NÃO É ESPELHO" (Caetano Veloso).

quinta-feira, 9 de julho de 2009

CRÔNICA DO DIA.


DE MÃOZINHAS DADAS

Pela manhã muita gente caminha no calçadão. Há os que correm, evidentemente. Querem manter o corpo em cima; tanquinho, coxão, peitão, bumbuns durinhos, sarados (verão chegando à toda).

Mas o que realmente me chama a atenção são os casais antigos. Velhos e belos como lembranças de sítio. Os que vão deslizando devagar. Esses que não têm pressa, que seguem com lento prazer, observando detidamente os detalhes que escapam à maioria de nós; carros na avenida, cães marcando os coqueiros, o movimento delicado da maré.

Tranqüilos, vão deixando a sensação de que igualmente tranquila lhes foi a existência. Evidente que não. Tranqüilidade perene? Nada... Mansidão é o que ora carregam... Vencidos os atropelos, rompantes, emergências da juventude; apenas mansidão como herança, paz compartilhada, diferenças equacionadas pelos anos. Aplacação. Paixão transformada em... Não sei. Amor? Amor em tonel de carvalho. Curtido, mais saboroso!

De mãozinhas dadas vão sendo ultrapassados. O rapaz pernudo, depois a moça dos peitões, o jovenzinho com seu boné de lado, o cuidador de cães, o vendedor de frutas. Todos para além deles e eles resistindo, aproveitando a brisa e o calor da pele um do outro. É o que basta, o calor.

E eu penso, no meio de minhas urgências cotidianas: estou seguindo na direção certa ou só estou correndo? Peitão, pernão, bundão? Não. Coração!

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